Não, o criador da primeira filosofia prática do sucesso não era um monarca nem possuía sangue real. Muito pelo contrário, nascido em um lar humilde nas montanhas da Virgínia, sua infância foi marcada pela pobreza, pelo medo, pela susperstição e o pelo analfabetismo. Seus pais o batizaram de Napoleon em homenagem a um tio-avô abastado na esperança de que este lhe deixasse parte de sua fortuna em herança como manifestação de caridade e reconhecimento. O quê não ocorreu.
A determinação de Hill em dominar a pobreza surge por volta dos 12 (doze) anos de idade após ouvir um discurso realizado por sua madrasta, pessoa que exerceu grande influência na construção da sua identidade: “tive a boa oportunidade de ser educado por minha madrasta, que me apresentou à minha mente e me ensinou lentamente a usá-la, passo a passo”[1].
Trechos desse momento que impactou tão profundamente o lendário autor são descritos na obra Você Pode Realizar Seus Próprios Milagres. Destaca-se à título de ilustração: “A pobreza é como paralisia progressiva! Lentamente destrói o desejo de liberdade, destitui da ambição de se desfrutar coisas melhores da vida e solapa a iniciativa pessoal. Também condiciona a mente a aceitar uma miríade de medos, inclusive o medo de problemas de saúde, medo da crítica e medo de dor física”[2].
Príncipes, guias invisíveis ou príncipes-guias é um método desenvolvido por Napoleon Hill para se conectar e influenciar o subconsciente. Essa conclusão pode ser obtida a partir das seguintes afirmações:
- “Esses talimãs invisíveis permanecem conosco quando estamos despertos e zelam por nós enquanto dormimos, embora a maioria das pessoas passe pela vida sem reconhecer a existência deles”[3]; (grifo nosso)
- “Os guias invisíveis estão alojados naquele ‘outro eu’ que toda pessoa tem, o eu que não se vê quando se olha no espelho, o eu que não reconhece a palavra ‘impossível’, nem limitações de qualquer natureza que seja […]”[4]; (grifo nosso)
- “Na verdade, há outra pessoa dentro de você. Você tem outro eu: tem a pessoa que você vê no espelho quando está arrumando o cabelo ou o rosto, e tem aquele que nunca vê, mas sente, se mantiver um bom relacionamento com ele”[5]. (grifo nosso)
1. MENTE SUBCONSCIENTE: O PODEROSO “OUTRO EU”
“Tudo aquilo que você afirma mental e emocionalmente como verdade o subconsciente aceita e materializa em sua experiência. Basta que o subconsciente aceite a ideia. Logo que isso acontece, a lei que o rege gerará a saúde, a paz e a prosperidade que você deseja”. “Ela é uma fonte de poder e sabedoria que o põe em contato direto com a onipotência”.
Não há como compreender a magnitude do subconsciente (também chamado de inconsciente ou mente subjetiva) sem recorrer à vasta obra do Dr. Joseph Murphy a respeito do tema. As citações acima e os subsídios ora utilizados para descrever esse poderoso “outro eu” foram retirados de seu maior bestseller: O Poder do Subconsciente.
A mente consciente percebe o mundo por meio dos 05 (cinco) sentidos e é responsável por selecionar, organizar e estabelecer ligações entre todas as informações recebidas a fim de que possamos pensar (formular opiniões, juízos, conceitos), planejar e tomar decisões. É encarregada do raciocício, ou seja, da capacidade de conhecer, compreender, avaliar e discernir.
Já a mente subsconsciente (responsável por controlar funções vitais como digestão, circulação, respiração, batimentos cardíacos e eliminação de dejetos) “não faz as seleções e comparações necessárias ao processo de raciocínio”[6] e, ao contrário da mente consciente, percebe o mundo pela intuição, não pelos sentidos físicos (visão, audição, olfato, tato e paladar). Daí Napoleon Hill falar em “a pessoa que você não vê no espelho”.
Por não ter a capacidade de questionar ou contestar o que lhe dizem, toma, invariavelmente, como verdade as crenças (convicções ou certezas íntimas e profundas), os pensamentos habituais eas sugestões aceitas pela mente consciente. Contudo, não se limita a crer que é real, e é aqui que o seu admirável poder se manifesta: a mente subconsciente induzirá o desencadeamento de ações que terão como resultado a concretização dessas crenças, pensamentos e sugestões.
Como? Trabalhando por meio da associação de ideias, utilizando todas as migalhas de conhecimento que reunimos durante toda a vida, convocando todas as leis da natureza, recorrendo ao poder, à energia e à sabedoria infinita que existem em nós. Murphy[7] diz ainda que o subconsciente pode: “ver e ouvir fatos que estão ocorrendo em outros locais”; “viajar para terras distantes e trazer informações que são, não raro, as mais exatas e de caráter o mais verdadeiro”; “ler os pensamentos dos outros, saber o conteúdo de envelopes fechados ou intuir as informações gravadas em um disco de computador”.
2. A TÉCNICA DOS PRÍNCIPES
Em Quem Pensa Enriquece Napoleon explica que se os nossos pensamentos dominantes estiverem carregados de emoção (receberem sentimentos) e forem misturados com fé (crença absoluta em sua capacidade) começarão imediatamente a ser traduzidos em realidade: “A mente subconsciente vai transmutar em seu equivalente físico, pelo método mais direto e prático possível, qualquer ordem dada a ela em um estado de crença ou fé de que a ordem será cumprida”[8]. (grifo nosso)
Elucida, também, que a repetição de afirmações produz fé (crença firme e incondicional, alheia a argumentos da razão) — “Se você repetir uma mentira muitas vezes, com o tempo vai aceitar a mentira como verdade. Mais ainda, vai acreditar que ela é verdade”[9] — e que é dessa maneira que damos ordem à mente consciente.
Pela técnica dos príncipes, entretanto, o ato de crer sem reservas em determinada ideia ou declaração não provém do processo de repetição, mas sim da expectativa de que cada um desses príncipes desempenhará fielmente o papel para o qual foi concebido: “Dou ordens e agradeço pelos serviços, assim como faria se fossem pessoas. E eles reagem aos meus pedidos como se fossem pessoas reais”[10].
Mas, afinal, quem são esses príncipes? Hill afirma que reconheceu a existência e formou uma aliança de trabalho com 08 (oito) guias invisíveis, atribuindo-lhes nomes de acordo com os serviços que prestam. Destaca de forma categórica que todo indivíduo nasce acompanhado de guias invisíveis ― alojados “naquele ‘outro eu’ que toda pessoa tem” ― em um número suficiente para suprir todas as sua necessidades.
3. OS OITO PRÍNCIPES-GUIAS
Chamaremos de “constituinte” a pessoa que convocou o trabalho dos guias invisíveis conferindo-lhes funções estratégicas.
- Príncipe da Prosperidade Financeira ― Encarregado de providenciar a satisfação de todas as necessidades de ordem material concernentes ao estilo de vida adotado pelo constituinte. Trabalha para que o dinheiro esteja sempre disponível na proporção do serviço prestado ou da atividade desenvolvida. Afinal de contas: “Não existe uma realidade do tipo ‘algo a troco de nada’”[11].
- Príncipe da Boa Saúde Física ― Zela pelo perfeito funcionamento de todos os órgãos do corpo, dotando-os de resistência e de imunidade contra todas as doenças. Para que esse príncipe possa desempenhar eficientemente a sua função faz-se indispensável a cooperação do constituinte, que deverá se alimentar com refeições saudáveis, ter a quantidade adequada de sono, praticar exercícios físicos regularmente e manter a mente ocupada com pensamentos positivos e contrutivos.
- Príncipe da Paz Mental ― Responsável por manter a mente livre de influências perturbadoras (medo, superstição, ganância, inveja, ódio e cobiça) e por silenciar pensamentos sobre eventos desagradáveis do passado ou adversidades cogitadas para o futuro. Protege o constituinte de tudo que possa conduzi-lo a um estado de ansiedade ou preocupação.
- Príncipe da Esperança e Príncipe da Fé ― Esse guias invisíveis atuam conjuntamente auxiliando o constituinte a: a) enxergar planos como realidades concretas antes de serem colocados em prática; b) abandonar projetos ou propósitos que, se executados, poderiam causar danos a si mesmo ou a terceiros; c) encontrar alegria e felicidade em todas as suas ações, mantendo-o entusiasmado, inspirado e longe da procrastinação; d) ter uma autoestima elevada sem deixar de lado a humildade e a gratidão.
- Príncipe do Amor e Príncipe do Romance ― São responsáveis por fazer com que o constituinte: a) tenha um espírito jovial (bem-humorado, expansivo, bem-disposto); b) identifique o benefício equivalente que vem com cada frustração, fracasso ou decepção; c) reprima o “querer excessivo” e, ao mesmo tempo, impeça o contentamento com demasiadamente pouco; d) experimente outra vez os amores e fantasias de tempos que ficaram para trás e que inundam a mente com recordações de beleza e candura.
- Príncipe da Sabedoria Global ― Responsável por coordenar e inspirar a ação dos outros príncipes, fazendo com que cumpram as suas obrigações de forma plena, protegendo o constituinte enquanto dorme e enquanto está acordado.
Agora é com você. Reproduza os príncipes de Hill ou designe seus próprios guias invisíveis, dê a eles instruções claras e específicas, instrua-os individualmente ou em grupo (como se fosse uma assembleia ou reunião ministerial), convoque-os para um brainstorming.
Diante da complexidade da vida tendemos a escalonar nossas necessidades em ordem de urgência (priorizando a vida financeira em detrimento de uma boa saúde física, por exemplo). O método dos príncipes, em contrapartida, propõe uma abordagem sistêmica, identificando e agrupando em áreas específicas todas as necessidades que compõem uma vida próspera para ― com a ajuda do “outro eu” ― administrá-las em conjunto.
[1] Napoleon Hill. Hábito dos milionários. Edição promocional. Porto Alegre: CDG – Edições e Publicações, 2018, p. 83.
[2] Napoleon Hill. Você pode realizar seus próprios milagres. Edição promocional. Porto Alegre: CDG – Edições e Publicações, 2018, p. 78.
[3] Napoleon Hill. Você pode realizar seus próprios milagres. Edição promocional. Porto Alegre: CDG – Edições e Publicações, 2018, p. 43.
[4] Napoleon Hill. Você pode realizar seus próprios milagres. Edição promocional. Porto Alegre: CDG – Edições e Publicações, 2018, p. 83.
[5] Napoleon Hill. Hábito dos milionários. Edição promocional. Porto Alegre: CDG – Edições e Publicações, 2018, p. 82.
[6] Joseph Murphy. O poder do subconsciente. 60.ª ed. Rio de Janeiro: Best Seller, 2015, p. 113. E-book. Disponível em: < https://www.ubook.com>. Acesso em: 05 mar. 2022.
[7] Joseph Murphy. O poder do subconsciente. 60.ª ed. Rio de Janeiro: Best Seller, 2015, p. 108, 119 e 120. E-book. Disponível em: < https://www.ubook.com>. Acesso em: 05 mar. 2022.
[8] Napoleon Hill. Quem pensa enriquece – o legado. 4.ª ed. Porto Alegre: CDG, 2019, p. 72-73.
[9] Napoleon Hill. Quem pensa enriquece – o legado. 4.ª ed. Porto Alegre: CDG, 2019, p. 75-76.
[10] Napoleon Hill. Você pode realizar seus próprios milagres. Edição promocional. Porto Alegre: CDG – Edições e Publicações, 2018, p. 43.
[11] Napoleon Hill. Quem pensa enriquece – o legado. 4.ª ed. Porto Alegre: CDG, 2019, p. 49.
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LUIZ GUSTAVO PANTOJA — Advogado desde 2002 (aos 22 anos de idade), é graduado pela Faculdade de Direito da Universidade de Mogi das Cruzes, especialista em Direito de Empresa pela FADISP – Faculdade Autônoma de Direito, possui experiência docente no magistério superior em Direito, é sócio cofundador do escritório LUIZ CARLOS PANTOJA ADVOGADOS e independent researcher em desenvolvimento pessoal e profissional